A ornitofilia e a sociedade

Por 
Alvaro Blasina

A cria de pássaros em cativeiro, envolve muitas das vezes alguns preconceitos naturais, daqueles que vêem um contraditório na manutenção dos pássaros em gaiolas. De fato, a primeira impressão é a de que essas aves mantidas em espaços reduzidos, deveriam estar em liberdade. Estes conceitos, vão mudando de ótica, quando nos aprofundamos verdadeiramente na análise histórica e ecológica do por quê desse longo processo de interação homem-animal ao longo dos séculos.

As nossas origens, desde o tempo das cavernas, foram de uma total integração com a Natureza, e o prazer do convívio com diversas formas de vida, está inserido profundamente no nosso comportamento e estrutura genética. Difícil resulta de imaginar qualquer ambiente, seja ele profissional, comercial ou doméstico, onde não haja um jardim, um animalzinho de estimação, ou uma foto sequer de um ambiente natural.


O homem foi se aglutinando em grandes metrópoles, mas manteve intactas as suas necessidades de contato com a Natureza, gerando um mercado que hoje chamamos de “Pet”, que nada mais é do que um enorme universo de opções animais disponíveis para nos fazer companhia.

Estatisticamente, o mercado Pet é o que mais cresceu no Mundo nas últimas décadas, o que vem à comprovar que por mais agitada que a vida moderna seja, por mais concentrada a “selva de pedra”, e mesmo com o impressionante avanço tecnológico, de comunicações e entretenimentos, o ser humano mantém uma fisiológica necessidade de contato com outras formas de vida.

Esta situação, acarreta um risco eminente de agressão ao meio ambiente, pois alguns dos animais escolhidos pelo homem (os pássaros principalmente) são capturados ilegalmente da Natureza, e comercializados pelo tráfico especializado, que depois dos entorpecentes e das armas, é o que mais mobiliza recursos no Mundo.

A extinção das espécies, ou sua drástica diminuição populacional se deve basicamente à quatro fatores:
  1. Emissão de produtos poluentes
  2. Destruição do Habitat Natural
  3. Caça predatória
  4. Fiscalização inadequada
No caso específico da Caça Predatória, uma das formas mais eficazes de minimizar esse problema, é o estímulo à cria em cativeiro das espécies mais procuradas pelo homem. Dessa forma, e ao longo dos séculos, algumas espécies avançaram tanto nesse sentido, que se viram livres dessas ameaças tendo em vista o enorme sucesso do homem na sua reprodução em confinamento. Surgiram assim, as espécies chamadas de “domésticas”, tais como cães, gatos, galinhas, cavalos, canários, etc. etc.

O sucesso da cria de animais domésticos em cativeiro é tal, que o IBAMA não exerce qualquer ação fiscalizadora sobre eles. Quem quiser criar qualquer animal doméstico, não precisa realizar qualquer tramitação junto ao referido órgão. É evidente no entanto, que até se tornarem “domésticas” milhares de abnegados criadores passaram por centenas de anos aprimorando os métodos de reprodução, manejo, sanidade, nutrição, etc. etc.

Assim como o homem passou de um estado chamado de “selvagem” para outro de “civilizado”, onde passou pela adaptação de uma vida em grandes áreas e baixíssima concentração populacional, à se adaptar a viver em pequenos apartamentos de alguns metros quadrados, e trabalhar em verdadeiros cubículos, se transportar literalmente comprimidos em meios de transporte subterrâneos, sem sequer ver muitas vezes a luz do dia, os animais também passaram por essa adaptação, de “silvestres” para “domésticos”.

Tal foi essa adaptação, que se fossemos colocados subitamente no meio selvagem dos nossos ancestrais, a nossa chance de sobrevida seria praticamente zero, da mesma forma que os animais domésticos, dentro da gaiola estão livres do stress de se proteger de predadores, do frio, da chuva e da vital exigência da busca diária por alimentos. Se soltássemos um cão na Sabana, o estaremos condenando à morte, da mesma forma que se soltamos um canário no mato, certamente será presa fácil de predadores, ou na pior das hipótese, morrerá de fome.

No caso específico dos pássaros, por estarmos ainda num período de intenso tráfico, destruição constante dos habitats naturais, fiscalização deficitária por falta de recursos, etc. a cria em cativeiro tem um apelo ecológico fundamental, que entendemos merecedora de mais estímulo por parte das autoridades.

Cada pássaro que se cria na gaiola, ocupará certamente o lugar de outro que seria retirado da Natureza. É uma contribuição direta para o desestímulo ao tráfico. O canário ocupa dentre as aves domésticas, um lugar de destaque. É a ave ornamental mais criada no Mundo. Se reproduz em cativeiro há mais de 5 séculos. Ao longo do tempo, e por meio de seleção genética, foi se somando ao seu belo canto, uma enorme variedade de cores, formas e plumagens. São hoje reconhecidas oficialmente 466 cores de canários e 131 raças de porte.

A estrutura organizacional é de causar admiração para quem não tem convívio freqüente com este meio. Somente no Brasil, aglutinados pela F.O.B. (Federação Ornitológica do Brasil) exitem 155 Clubes de Canários Filiados, que aglutinam mais de 10.000 criadores oficialmente cadastrados, isto fora àqueles amadores não Federados que se estima superem amplamente essas cifras.

São produzidos anualmente no Brasil aproximadamente 500.000 filhotes anilhados e oficialmente registrados, com possibilidades de participar dos concursos. O Campeonato Brasileiro de Canários, requer um local com mais de 8.000 m2 de área fechada para alocar os mais de 20.000 canários à serem julgados, além dos recintos comerciais, local de julgamento, etc. etc.

A Canaricultura como passatempo, tem certamente algumas virtudes que merecem ser exaltadas.
  • Pode ser praticada em espaços um reduzidos
  • É de baixo custo
  • Requer muito pouco tempo para limpeza e alimentação dos pássaros
  • Não representa risco a saúde do ser humano
Muitos são os estudos ligados à área da psicologia que concluem que a cria de animais domésticos representa uma contribuição inestimável para a sanidade mental de todas as idades, e arma infalível contra o stress.

Acompanhar cada etapa da vida, o milagre do nascimento, e sentir a emoção de termos contribuído para isso, é certamente uma fantástica emoção.


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Fonte: Disponível em: http://www.criadourosemear.com.br. Acesso em 25 de dez. 2014

Um comentário :

  1. PRECISAMOS SEMPRE DIVULGAR ESSE TIPO DE ARTIGO, EM OUTRAS MÍDIAS, PARA QUE POSSAMOS ESCLACER AOS QUE NUTREM PRECONCEITOS EM RELAÇÃO AOS CRIDORES DE PÁSSAROS. CÃES, GATOS E PEIXES TAMBÉM FICAM EM ÁREAS REDUZIDAS E NÃO OBSERVO ESSE TIPO DE PRECONCEITO. ME PARECE QUE A GAIOLA, SEMELHANTE A UMA JAULA,SEJA O MAIOR MOTIVO DESSE PRECONCEITO.

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