Como preparar sua ave para os torneios

Por
Marcelo Tamburo

Mais uma temporada se inicia, e com ela surgem as dúvidas de como fazer certas coisas, hora de troca de hábitos, de realizar novos testes, enfim o momento é agora.

Em 2011, tive o prazer de realizar um feito que, há anos, tentava e por um motivo ou outro não conseguia, que era fazer o NACIONAL por inteiro, campeonato que só quem o fez pode dizer o que é.

Passarmos por muitos desafios, perigos nas estradas e cansaço das viagens, gastos e saudade de quem deixamos pra trás para satisfazer este nosso hobby, apesar das dificuldades e perseguição que a categoria sofre.
Mas tudo isso era compensado quando chegávamos às cidades e éramos muito bem recebidos por gente de toda parte deste Brasil... NACIONAL é um só, COBRAP, a qual parabenizo a todos, na pessoa do mestre ALOISIO, já que citar nomes iria, COM CERTEZA, me induzir a cometer injustiças e esquecimentos.

Amigos de toda região, os quais apesar da distância, parece que nos vemos com frequência, e nesse período em que os alados descansam (mudam), ficamos distantes, mas que em breve estaremos juntos.

Mas falemos dos alados e do manejo para temporada.


Muita gente me pergunta o que faço neste período de descanso, qual a mágica, e ficam desapontados quando respondo: NADA! Mas é a pura realidade. Passo a ave no inicio e no final da muda pelo veterinário, onde são feitos exames de rotina e SOMENTE ENTRO COM MEDICAMENTOS, CASO HAJA REAL NECESSIDADE e mesmo assim sob PRESCRIÇÃO DO PROFISSIONAL VETERINÁRIO, aliás, se me permitem, gostaria de deixar meus agradecimentos aos Dr.(s) Shimaoka (SP) e Renan (RJ), que muito me auxiliam.

Claro que um cuidado e preparo especiais sempre temos, principalmente no que se refere à higiene e à alimentação, onde tomo muito cuidado para que a ave não fique obesa nesse período de “entressafras”, conselho que não sigo pra minha pessoa... kkkk

Preocupo-me muito em oferecer ração extrusada de boa qualidade, e não oriento que fiquem fazendo testes, e só façam trocas quando houver real necessidade, como a falta de um determinado produto por exemplo. Por causa desta situação é que sempre ofereço DUAS opções de ração, e caso isso ocorra, não serei pego de surpresa, nem precisarei “forçar” para que a ave pegue outra ração, podendo, assim, ocasionar uma muda ou repasse de penas, e isso, às vezes, ocorre no meio da temporada atrapalhando o desempenho da ave.

Muita fruta, legume e verdura (prefiro as escuras: espinafre japonês, chicória, couve), alimento vivo apenas uma vez por semana em pequena quantidade (2 larvas) e sementes diariamente (mistura: 60% alpiste, 10% arroz bolinha, 10% cartamo, 10% painço, 10% senha, basicamente uma mistura de bicudos).

Com essas mudanças de temperatura, pelo menos aqui em São Paulo, banho somente uma vez por semana e, isso se o dia estive bem quente, de forma que possa deixar a ave sob o sol por alguns instantes para que as penas sequem, evitando possíveis problemas respiratórios.

Outra dica, é de vez em quando passar a ave para a gaiola de passeio (aqueles que moram em voadeiras, como é o caso do Raio de Fogo), pois acabam por estranhar nos primeiros dias, já que passaram praticamente  seis meses em uma gaiola bem maior. O mesmo acontece ao utilizar capas e “passear” de carro, onde alguns estranham esse início.

Outra coisa que muitos esquecem é das fêmeas, de maneira a procedermos da mesma forma e manejo, haja vista esta ser a companheira do competidor, e devemos respeitar a hora certa deste “reencontro” evitando “desacertar” a puxada do bicho, pois já vi muitos casos assim, onde o criador acredita que já está na hora de aproximar o casal, e  com isso atrapalha o acasalamento, tendo de começar tudo de novo, e pode perder tempo e etapas, que por se tratar de ponto corrido, fará muita diferença no final.

Para aqueles que costumam viajar, muita atenção quanto à acomodação da ave no veículo.


Aprendi que levar pássaros no porta-malas, mesmo que aberto(veículo tipo perua), corre-se o risco de lesões, já que a traseira “chicoteia” mesmo que não percebamos. Ideal seria forrar bem o banco traseiro ou acondicionar as gaiolas em suportes, bem travada e sempre de forma que a ave viaje de frente, como nós, pois tem muita gente que leva a gaiola de lado, acreditando ser a forma ideal, mas não é.

Importante também é atentar-se quanto à alimentação na viagem, principalmente as de longa distância. Oferecer alimentos mais leves e sempre que puder dar uma parada e deixar que a ave tome um pouco de ar fresco. Não oriento a trocar a água, somente em último  caso, já que no interior do veículo é normalmente quente e ao oferecer água fria poderá  ocasionar um choque térmico... o mesmo quanto ao ar condicionado, que a meu ver, deverá ser utilizado de forma moderada. Coloco em torno de 22º e deixo direcionado ao vidro (desembaçador).

Nos hotéis, procure acomodar primeiro a ave, escolhendo um quarto bem arejado, onde ela possa tomar um banho e descansar bem durante à noite. Lembrando que quem irá competir será ela e não você, por isso pense na ave primeiro. Costumo sempre pegar um quarto só pra ave, já  que o entra e sai do quarto acorda-a, comprometendo o desempenho no dia seguinte.

O retorno é tão importante quanto a ida, já que a ave está em um estado de estresse e cansaço DOBRADO. Sempre levo minha ave em uma gaiola maior e só passo para a gaiola de torneio  na hora de ir para estaca. Já na volta, deixo-a como está, evitando, assim, que a mesma se locomova muito, forçando-a a descansar.

Chegando à nossa casa, ainda permanece na gaiola por mais um dia, e somente no dia seguinte à chegada é que passo para o voador.


ADENDO VETERINÁRIO


Aproveitando a oportunidade com nova coluna, sou Dr. Renan Cabral Cevarolli, Pós Graduado em Clínica Médica e Cirúrgica de Animais Selvagens, com orgulho, passarinheiro há mais de 14 anos. Certamente essa vida de passarinheiro me ajudou muito minha formação, por conhecer bastante de comportamento, principalmente dessa ave tão fascinante que é o Trinca-ferro. Por serem presas, os passeriformes em geral mascaram a sintomatologia de qualquer doença, no intuito de preservar sua vida na natureza. É claro que uma ave solta ao demonstrar que está doente é alvo fácil para os predadores. Esse instinto  que trouxeram para a vida nas gaiolas dificulta muito a detecção de qualquer doença no início, manifestando-as quando muitas vezes uma intervenção medicamentosas não surte mais efeitos. É ai que entra a importância da observação; qualquer mínima mudança de comportamento pode ser sinal de uma doença subclínica ou mal estar.

Muitas vezes uma hepatomegalia, ou fígado aumentado, geralmente  por nutrição inadequada, ou até uma aerossaculite(infecção nos saco aéreo) pode ser a confundida com uma falta de preparo físico. Por quê? Porque estas e outras doenças deixam a ave com aspecto cansado, de bico  aberto. 

O amigo Tamburo escreve acima que não dá nada na época de muda, e ele  está certo, pois nutre bem sua ave. Hoje temos rações balanceadas  que fazem com que não seja necessário suplementar nada artificialmente. Dar o que na muda? Ferro? Não. Principalmente para aves que comem  alimentos macios e frutas, ou poderá causar uma hemocromatose, doença a qual discutirei em outra oportunidade.

A temporada se inicia e com ela a manipulação, a troca de ambiente e o estresse, propiciam o aparecimento de doenças relacionadas à imunossupressão, tais como a Coccidiose, Aspergilose e Mycoplasmose. Como minimizo estresse? É mais fácil do que se imagina. Enriquecimento ambiental, ou seja, colocar no gaiolão galhos de árvore no lugar dos poleiros, trocar  a empoleiração  frequentemente, colocar um ninho, mesmo que só tenha um macho, trocar o lugar da água e ração, variar os vegetais, colocar frutas picadas e misturas num comedouro, água limpa e fresca,..., distrair seu animal.

Segue o esquema:


AVES ATIVAS  = ↓ TÉDIO = ↓ ESTRESSE = ↑ IMUNIDADE

Logo, façamos exames preventivos e nossas aves e, se estiver tudo ok, com o tratamento correto e o treinamento perfeito, seu pequeno atleta com certeza te trará toda a quantidade de cantos que sua carga genética o permitir. Boa sorte! 


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Fonte: Revista Passarinheiros&Cia nº 68 – Ano XI – pág. 53, 54.

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